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31/8/2021
Comportamento

Ansiedade e atrofia social: Como retomar relações pós-isolamento

Entre a vontade de encontros e o receio diante do coronavírus, muitas pessoas têm enfrentado dificuldades em reconstruir uma rotina fora de casa.

Ana Beatriz Rosa
pessoas saindo as ruas de máscara

Dos dias passados inteiramente de pijamas à necessidade de tirar os jeans do armário para ir até a esquina e perceber se ainda lhe servem. Das infinitas reuniões via Zoom para alguns cafés presenciais, ainda com a máscara no rosto e apenas uma vez por semana.  De pauta única - e principal! - de qualquer conversa para a necessidade absoluta de silenciar as notícias e respirar, literalmente, com um pouco de distanciamento.


O avanço da vacinação em diversas cidades do Brasil tem nos obrigado a entender o “novo normal” como uma possibilidade de vida híbrida. É um misto de otimismo e esperança ao ver a pandemia de covid-19 entrar em uma fase de maior controle em diversos países, mas também de inúmeras incertezas diante das novas variantes do coronavírus e as infecções decorrentes delas.


A pandemia não acabou e segue cobrando da população medidas de cuidado, como evitar aglomerações e manter o uso de equipamentos de proteção. Mas a fase de reabertura das cidades e serviços tem impulsionado o desejo de vivenciar uma certa retomada das atividades que marcavam nosso cotidiano antes de a covid-19 entrar na nossa vida. 


Como seres humanos, essa nova realidade nos exige adaptação, paciência e flexibilidade. Mas para algumas pessoas ela não vem sem prejuízos: o tempo passado em isolamento social causou uma certa “atrofia” em nossos músculos sociais, e só pensar em uma reunião presencial com um pouco mais de pessoas, para alguns, já é motivo de ansiedade. 


Os meses em isolamento e os reflexos em nossa saúde mental

A necessidade do distanciamento social como estratégia para conter a disseminação do coronavírus fez com que muitas pessoas precisassem se ajustar a um novo nível de interação social. Para algumas, o período diminuiu questões como o FOMO (“Fear of Missing Out”, ou “medo de estar perdendo algo” em tradução literal). Para outras, a solidão abriu espaço para uma tristeza profunda. 


“Nós fomos surpreendidos pela pandemia. Foi uma mudança muito brusca na nossa forma de viver e tem durado por muitos meses. O medo em relação ao vírus e à doença é real, mas além disso existe todo o impacto que o isolamento causou em nossa rotina, em nossa convivência e na nossa socialização”, explica Jainan Barretto, psicóloga da Alice, em entrevista ao Portal Time de Saúde. 


Alguns relacionamentos se deterioraram com a convivência ininterrupta sob o mesmo teto. Já outras relações nem sequer sobreviveram, uma vez que dependiam de um determinado contexto para existir. 


O fato é que passamos a nos preocupar diariamente com os nossos entes queridos, e mais: com a nossa situação financeira e com o nosso futuro como sociedade. 


“É uma série de camadas muito complexas que estamos acessando agora, e é normal que a gente tenha reflexos disso no nosso emocional. Não dá pra fingir que nada aconteceu”, explica a psicóloga.


Ansiedade pós-pandemia e atrofia social 


E é justamente por não sabermos ao certo por quanto tempo vamos conviver com a presença do vírus que algumas pessoas têm relatado sintomas de ansiedade, angústia, medo exacerbado e picos de estresse com a possibilidade da retomada da socialização. 


“Presenciamos um aumento de casos de pessoas com depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, pânico. Nunca se falou tanto de saúde mental. Mas na verdade essas questões sempre existiram, só que o momento estressante que a gente está vivendo trouxe isso à tona e fez que a gente precisasse falar abertamente sobre as nossas dificuldades”, avalia a psicóloga.


Ao mesmo tempo em que desejamos o convívio com outras pessoas e sentimos falta das nossas relações, a insegurança em relação à possibilidade de contágio traz certo receio em deixarmos a rotina que foi construída nos meses dentro de casa.


Esse medo, de acordo com a especialista, está diretamente ligado à nossa angústia em ter que abrir mão de algum controle, ou seja, daquilo que entendemos como a nossa zona segura. 


“Foi preciso muita energia para fazermos da nossa casa o nosso espaço seguro. O ambiente restrito foi compreendido como o nosso maior fator protetivo e sair daquilo que eu estipulei como a minha zona segura vai causar muito desconforto”, ela explica. 


A ansiedade surge exatamente daí. O ser humano precisa da ideia de que consegue delimitar o que está ao seu alcance. Mas a pandemia inverteu essa lógica de que temos algum controle. Por algum tempo, a gente não soube exatamente o que iria acontecer. E, a partir disso, perdemos a referência de como agir.


“Respeitar os protocolos, cuidar de si e cuidar do outro passou, então, a ser a nossa expressão de controle, a forma que encontramos de atuar de algum jeito nessa crise. Por isso é natural que a gente se sinta aflita com a reabertura”, argumenta Barretto.

O que fazer para lidar com tudo isso? De acordo com a psicóloga, precisamos lembrar que somos adaptáveis, mas que isso demanda tempo. “O novo só causa medo porque é desconhecido. Quando eu entro em contato [com o novo], eu passo a me sentir mais confortável com a minha nova realidade.”

Como retomar a socialização de forma segura


O primeiro passo, e o mais importante, é lembrar sempre que não existe uma fórmula mágica, ou uma única maneira, de lidar com essa retomada da socialização. 

Com respeito e paciência, aos poucos, vamos entendendo que nem todas as pessoas podem ter a mesma régua de sociabilidade, e que tudo bem não se sentir preparado para esse momento. 

Muita coisa mudou, mas permanece a necessidade de cuidarmos da nossa saúde física e mental. Isso significa continuar respeitando os protocolos de segurança e também entender que cada um vai se adaptar a essa nova rotina de uma forma diferente.



  • Se, por um lado, a ansiedade, o medo e a tristeza são emoções inerentes ao momento em que estamos vivendo, é preciso estar atento ao momento de pedir ajuda profissional. Quando essas emoções se tornam complexas demais ou passam a afetar a nossa rotina, não hesite em procurar ajuda.

  • Respeitar as nossas questões e as dos outros significa ter atenção aos nossos sinais de alerta, como os nossos pensamentos disfuncionais (aqueles que nos levam para cenários catastróficos e depreciativos), bem como evitar fazer julgamento do outro (se a gente está falando de respeito, precisamos entender o ritmo de cada um e a mudança que cada um viveu).

  • Precisamos estabelecer conversas assertivas e não ter medo de expressar os nossos limites. Da mesma forma, temos que procurar entender o jeito do outro de lidar com essa readaptação.  É sobre acolher mais e punir menos as atitudes diferentes das suas, desde que isso não te cause sofrimento. 

  • Entenda o seu momento e enfrente os seus limites da mesma maneira. Vá com calma, mas tenha claro que é preciso enfrentar certas situações e, sobretudo, tentar trazer um olhar mais racional em relação às emoções. 

  • Para isso, construa pequenas “âncoras” ao imaginar como seria a sua vida fora do isolamento social: prefira encontros ao ar livre; mantenha sempre o uso de máscaras; faça caminhadas sozinho ou acompanhado; se achar necessário, estabeleça quantidade de tempo fora de casa; não tenha medo de negar convites ou encontros e vá retomando as suas atividades aos poucos.

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