Um passo de cada vez. É assim que boa parte dos aplicativos, relógios inteligentes e outros rastreadores mede a atividade física de quem os usa. Esses acessórios, que já foram considerados agregadores de rendimento para atletas, hoje estão transformando a saúde de pessoas comuns. Um artigo publicado no British Journal of Sports Medicine demonstrou que o uso de apps ou wearables tem um efeito positivo na atividade física de adultos saudáveis, aumentando em média 1.850 passos por dia em comparação com o grupo de controle (pessoas que não utilizavam esse tipo de tecnologia).
O número é significativo: as evidências científicas indicam que o aumento de 1.700 passos diários está associado a menores taxas de mortalidade, com impacto positivo na qualidade de vida, redução de risco para doenças cardiovasculares e diabetes. Essa contagem de passos revela o entendimento de que atividade física está presente na rotina e não exclusivamente na prática de exercícios físicos. Manter-se em movimento durante o trabalho, transporte, lazer e atividades domésticas é benéfico para combater o sedentarismo.
O artigo é a primeira revisão sistemática sobre o uso desse tipo de tecnologia, avaliando 28 estudos publicados entre 2007 e 2020, com média de 13 semanas de duração, que envolveram 7.454 participantes entre 18 e 65 anos sem doenças crônicas. De acordo com os pesquisadores, o fato de contar cada passo traz a possibilidade de automonitoramento e feedback, que são essenciais para a mudança de comportamento e estão presentes nas estratégias tradicionais de promoção da atividade física.
Com aplicativos e wearables, é possível que usuário faça um acompanhamento contínuo e de forma automatizada, além de acessar os dados registrados no decorrer do dia. Quando esse automonitoramento e feedback é acompanhado por mensagens de texto e conteúdo customizado, a revisão demonstra que os efeitos têm maior eficácia.
Novas formas de incentivar a atividade física
Apesar dos resultados positivos, o artigo encontrou um desafio no uso dessas tecnologias a longo prazo. Alguns estudos mostram que um terço dos usuários abandonou o dispositivo nos primeiros meses de uso. Para mudar essa realidade, foi sugerida uma gamificação da experiência para promover retenção e aumentar a eficácia da promoção da atividade física.
Transformar a atividade física em um jogo vem sendo estudado por governos para aumentar a promoção da saúde na população. Esse é o exemplo do National Steps Challenge, desenvolvido em Singapura para maiores de 17 anos. O app desafia o usuário a bater metas - de passos até exercícios moderados - por um período limitado e ganhar pontos por isso. Os pontos acumulados são trocados por bonificação de até $10 (dólar de Singapura - cerca de R$ 38) em vouchers eletrônicos.
Este não é o único aplicativo que gera competições ou formatos de gamificação para a prática de atividade física. Há diferentes relatos cientificamente comprovados do uso de jogos comportamentais para aumentar a frequência de atividade física. Um exemplo é o jogo Pokémon Go.
Pesquisa realizada pela Escola de Enfermagem da Universidade Duke com 167 usuários com cerca de 25 anos apontou que antes do Pokémon Go, em média, as pessoas caminhavam cerca de 5.600 passos e, após jogar, a média de passos diários aumentou para 7.600. Os resultados também apontaram que quem participava do jogo tinha duas vezes mais chances de atingir sua meta diária de 10.000 passos, recomendado pela American Heart Association.
Outra forma que os aplicativos operam, que pode trazer benefícios a longo prazo, é rastrear dados de saúde que sejam úteis para pacientes e médicos, criando um registro e histórico pessoal acessível. Há também aplicativos que usam até chamadas de emergência em caso de um acidente.
Seja jogando, contando passos ou se movimentando, evidências científicas demonstram que o importante é não ficar parado. Qualquer intensidade de atividade física tem potencial para reduzir as chances de doenças, melhorar sintomas de ansiedade e depressão, além de aumentar a qualidade de vida.