Passados 14 meses de pandemia, já são mais de 16 milhões de brasileiros que se recuperaram da Covid-19 no País. Médicos e especialistas ainda investigam quais são as possíveis sequelas deixadas pela doença.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), os principais danos acometem o pulmão, o coração e o sistema neurológico após a fase aguda da doença. Se você se identifica com algum desses quadros, a Ciência traz uma boa notícia: incluir uma rotina de exercícios físicos, com intensidade adequada ao seu perfil, vai auxiliar a sua reabilitação.
Na China, um estudo publicado na revista acadêmica Lancet que acompanhou 1.733 pessoas por seis meses após o diagnóstico da doença indica que 76% dos participantes tiveram ao menos um sintoma no período posterior à infecção pelo vírus. Os mais relatados foram: intensa fadiga e fraqueza muscular (63%), dificuldades para dormir (23%) e sintomas de ansiedade e depressão (23%).
Pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) analisaram como o exercício físico, principalmente a atividade aeróbica, pode ser uma grande ferramenta na reabilitação dos pacientes que apresentam condições pós-covid.
De acordo com os estudos da USP, o vírus Sars-CoV-2, ao entrar nas células, danifica a enzima ECA 2, uma enzima específica presente em diferentes tecidos humanos, que tem como papel equilibrar o Sistema Renina Angiotensina (SRA), responsável pelo processo de manutenção do equilíbrio corporal.
Com isso, o coronavírus causa a miopatia esquelética, que se traduz em dificuldades cardiorrespiratórias, fraqueza muscular, fadiga e cansaço. Como forma de reverter esse quadro, a atividade aeróbica e outros exercícios físicos são ótimas ferramentas não farmacológicas, pois permitem a recuperação do balanceamento do sistema SRA.
Volta ao treino pós-covid demanda cuidado e atenção
O exercício físico traz inúmeros benefícios para a nossa saúde e sistema imunológico. Em casos de pacientes em recuperação da covid-19, a prática minimiza as sequelas e recupera a qualidade de vida após a infecção já que melhora a independência do paciente, assim como a resistência cardiorrespiratória, força muscular, equilíbrio, coordenação motora, controle das comorbidades, correção da postura etc.
Movimentar o corpo de forma regular e em níveis de intensidade adequados melhora o metabolismo, atenua os estados inflamatórios e diminui o estresse oxidativo, que é o desequilíbrio entre os antioxidantes e os radicais livres a partir das reações em nossas células.
Por isso, a atividade física é tão orientada pelos profissionais de saúde. Mas, antes de colocar a sua roupa de ginástica, é importante conversar com o seu médico e preparador físico de confiança. O ideal é que a volta ao treino pós-covid seja feita de forma personalizada e gradativa.
Publicado no BMJ (British Medical Journal), um artigo aponta a escala de percepção de esforço físico como um caminho seguro no retorno à prática. O estudo sugere que cada paciente avalie com o profissional de saúde a fase em que se encontra.
A primeira e segunda fase, por exemplo, orientam que o paciente escolha uma atividade leve - ou seja, que seja capaz de manter uma conversa enquanto pratica a atividade física. Alguns exemplos são realizar uma caminhada, alongamento, exercício de força com cargas baixas.
Já na terceira e quarta fase deve ocorrer uma progressão para atividades com ritmos mais moderados e desafiadores, a depender do condicionamento físico que o paciente tinha antes da infecção por coronavírus. Isso pode incluir caminhadas e corridas mais rápidas, natação e bicicleta, por exemplo.
O estudo sugere que cada etapa tenha um período de no mínimo 7 dias. Depois de concluir a reabilitação entre essas fases, é esperado que a pessoa consiga evoluir para o seu ritmo de performance desejado, sempre com o monitoramento de um profissional de saúde ou preparador físico.