Tempo seco. Essa expressão já entrou na rotina de quem mora na região Sul, Sudeste ou para quem vive em locais de estiagem e queimadas em outras regiões do país. O responsável por esse fenômeno natural é a baixa umidade relativa do ar, ou seja, a quantidade de água na forma de vapor presente na atmosfera. Quanto mais baixo esse índice, maiores os alertas e impactos para a saúde.
Nesta semana, o Instituto Nacional de Meteorologia aponta que a umidade relativa do ar estará bem distante dos 60% recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
A proporção da umidade em várias partes do país cairá a uma faixa entre 20% e 12%, muito próximo de um clima de deserto. O Saara, por exemplo, costuma ter as mesmas variações. Os malefícios dessa condição climática podem afetar tanto seres humanos quanto plantas e animais de estimação.
O médico de família Marcos Mendonça, do Time de Saúde da Alice, destaca que o corpo precisa se adaptar ao clima seco e para isso faz ajustes para sobreviver. “Com a baixa umidade, é comum sentirmos mais coceiras e as regiões do nariz, boca, olhos, garganta e pele mais secas”, descreve. “O corpo trabalha mais para se adaptar, tentando reter líquido para diminuir as chances de desidratação. O coração pulsa mais forte. A pressão arterial sobe. Essas condições criam diferentes riscos para o corpo humano.”
Doenças crônicas podem se agravar no tempo seco
O ressecamento da pele causa irritações e ardências. Essas condições podem gerar pequenas feridas, que são porta de entrada para vírus, bactérias e o desencadeamento de infecções que comprometem a saúde.
Além disso, o sistema respiratório, imunológico e cardiovascular são pressionados a trabalhar mais para manter o equilíbrio do corpo diante do ar seco, que além de diminuir o contato do corpo humano com a água traz consigo poluentes.
Esses fatores podem agravar a saúde de quem convive com doenças crônicas como hipertensão, asma, rinite, psoríase, dermatite atópica, entre outras.
Como aliviar os sintomas respiratórios na seca
Para prevenir os efeitos da seca no organismo, é necessário criar ambientes mais úmidos com ajuda de toalhas molhadas, umidificadores e manter a hidratação, especialmente, em idosos e bebês que também sofrem com o clima.
“Precisamos manter o corpo hidratado. A ingestão de pelo menos 2 litros de água e uma alimentação baseada em frutas, vegetais e legumes, que também são formados por líquidos. Além de evitar fazer práticas físicas durante os períodos de sol, que podem potencializar o processo de desidratação”, recomenda o médico de família.
Além dos hábitos saudáveis, Marcos Mendonça aponta que soro fisiológico e hidratantes labiais também são alternativas para diminuir o impacto da irritação de pele, nariz e garganta.
“O objetivo é manter os locais hidratados para diminuir a desidratação e todo processo fisiológico desencadeado por ela, especialmente, em idosos que têm uma descompensação maior nesta época por conta das condições crônicas ou em bebês que podem ter complicações infecciosas mais fácil do que um adulto.”
A seca e os incêndios
Os efeitos da baixa umidade do ar incomodaram os moradores de São Paulo com a chuva de fuligem oriunda do incêndio do Parque Estadual do Juquery, a 40 quilômetros do centro da capital paulista. O parque foi tomado pelo fogo após a queda de um balão. Segundo a Prefeitura de Franco da Rocha, a estimativa é que 65% total da área do parque foi atingida pelo fogo.
O tempo seco auxiliou na propagação da fuligem até a região metropolitana de São Paulo porque dificulta a dispersão dos poluentes na atmosfera e facilita o alastramento de fogo na área verde.
“Quando avaliamos o impacto da baixa umidade na população, sempre temos que entender que região ela está. Porque além da desidratação comum neste período, os poluentes também agravam as infecções e as irritações, especialmente em quem já vem com uma condição de saúde, por exemplo, as rinites alérgicas.”
Sintomas de covid-19?
Os sintomas que as pessoas manifestam diante da baixa umidade do ar podem ser confundidos com sinais da covid-19 ou outras síndromes respiratórias. Dores de cabeça, coriza e congestionamento nasal podem causar desconfortos prolongados e gerar suspeitas, especialmente para as pessoas que já têm histórico de doenças respiratórias.
“Não há como distinguir os sintomas, mas neste clima, há uma possibilidade maior de infecção do vírus assim como as outras síndromes gripais como a H1N1”, aponta o médico de família. Ele explica que, durante o tempo seco, o corpo diminui a produção de muco, que é essencial para a proteção das vias aéreas.
“Quando não temos esse muco, há possibilidade maior de infecções. Por esse motivo, é necessário reforçar ainda mais as medidas de prevenção e avaliar os sintomas com seu médico. [A infecção por] Coronavírus, normalmente, apresenta sintomas como febre e perda de paladar e olfato, que não são comuns no tempo seco, mas só um profissional e o exame poderão diferenciar os sintomas.” Ao notar a persistência dos sintomas, é necessária a avaliação de um profissional de saúde.
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Como evitar os efeitos negativos do tempo seco na saúde do pet ou da planta?
Criar um ambiente mais úmido para os pets e plantas é simples.
Ofereça mais água e diminua a exposição do sol nos períodos entre 12h e 16h, que são os momentos em que a umidade do ar despenca ainda mais.
Impacto do aquecimento global na seca
Os efeitos da baixa umidade do ar são classificados por estados de criticidade, acompanhando uma escala que define os cuidados que devem ser tomados para manter a qualidade de vida.
Em termos gerais, quanto mais baixa, mais desconfortos vão surgindo e as recomendações ficam mais rígidas para manter o nível de hidratação da população. Desde evitar exercícios físicos ao ar livre entre 11 e 15 horas, quando a umidade está entre 21% e 30%, até determinar interrupção de qualquer atividade ao ar livre entre 10 e 16h, quando a umidade está abaixo de 12%.
A Ciência aponta uma hipótese de que a umidade do ar vem diminuindo cada vez mais. A quantidade de vapor no ar depende de variáveis como chuva e equilíbrio da temperatura da região. O aquecimento global acaba afetando essa equação. Por isso, os efeitos da baixa umidade tendem a se tornar mais agressivos.
A maior parte de água vaporizada presente na atmosfera, ou seja, no ar que respiramos, se origina da evaporação dos mares, que flui ao redor do globo e de acordo com cada região. Porém, a superfície da Terra tem se aquecido mais rapidamente do que os oceanos.
Isso faz com que os mares não consigam evaporar água o suficiente, acompanhando a temperatura da Terra. Esse processo demonstra que a umidade relativa do ar diminuiu ao longo dos anos e há um potencial de diminuir ainda mais.