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3/9/2021
Comportamento

O sexo pós-pandemia: os efeitos do sexting e do home office

Maior pesquisadora de sexualidade no Brasil, Carmita Abdo avalia o impacto do isolamento na vida sexual de solteiros e casais.

Brunna Mariel
Imagem da psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo falando sobre sexualidade pós pandemia

Fotos, vídeos, áudios, aplicativos, encontros virtuais, assinatura de conteúdo inédito e personalizado e até mesmo a popularização de novos termos como nudes e sexting (compartilhamento de conteúdo erótico por mensagens no WhatsApp ou redes). A internet tornou-se protagonista do desejo sexual do brasileiro durante as medidas de distanciamento social na pandemia. 


O espaço conquistado, com variedade de conteúdo e suas possibilidades, é inegável. Para o futuro, o ambiente híbrido que recriou ambientes de trabalho, escolar e social também será comum na vida sexual. 


Descoberta, diversidade, fácil acesso. Essas são algumas das justificativas que a psiquiatra Carmita Abdo, professora da faculdade de medicina da USP e coordenadora do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade e Saúde), aponta para a internet manter o seu espaço nas relações após a pandemia. 


“O ambiente virtual evita algumas situações que podem ser cansativas e que inibem o prazer como a aceitação social de um encontro presencial, o deslocamento e até mesmo o custo de sair de casa. O sexo virtual traz opções fáceis de serem encontradas sem sair da frente da tela” reflete a professora que atende no ProSex pacientes buscam melhora na vida sexual. 


De acordo com a especialista, com a pandemia, as pessoas aprenderam uma nova forma de acessar o sexo e viram valor nessa experiência.  


Essa realidade pode ser distante de quem ainda não explorou as ferramentas virtuais para esse fim, contudo, em alguns países como a Argentina e nas cidades de Toronto e Nova York, o sexo virtual entrou na lista de recomendações governamentais para diminuir o impacto da covid-19 na população. 


Não apenas os solteiros foram beneficiados; um estudo também demostrou que a prática do sexo online com o parceiro estável ajudou a manter o desejo ativo e a satisfação mesmo com o distanciamento em casa separadas. 

Um ambiente cheio de possibilidades


Uma pesquisa realizada no início da pandemia nos Estados Unidos pela Universidade de Indiana com mais de 1.500 adultos apontou que, apesar do declínio da vida sexual, um em cada cinco participantes relatou que o momento de isolamento e pandemia trouxe a oportunidade de expandir o repertório sexual incorporando novas atividades e descobertas online. 


Carmita Abdo aponta que a diversidade de opções traz mais uma oportunidade para ter uma satisfação sexual e de dissociar a sexualidade apenas do ato sexual. O cardápio turbinado pela internet remete ao comportamento mais abrangente relacionado ao desejo e ao prazer, sensações que podem ser acessadas de diferentes formas e têm seus benefícios à saúde em todas as fases da vida. 


“Ainda não sabemos como será o futuro desse comportamento. Há uma tendência que seja híbrido, entre o presencial sem abrir mão do virtual. Há também preocupações em relação às zonas de conforto, o relacionamento das pessoas com a pornografia, mas é inegável que há uma série de influências da pandemia que não vão desaparecer”, destaca a professora. 


O prazer diminuiu durante a pandemia 


A OMS (Organização Mundial da Saúde) ressalta que a sexualidade é um dos pilares da qualidade de vida de um indivíduo, apontando que o prazer sexual é uma fonte de bem-estar físico, psicológico, intelectual e espiritual. 


Os últimos 15 meses de pandemia trouxeram para a literatura científica uma linha do tempo da atividade sexual da população em geral que oscilou de acordo com o período de distanciamento social e como a saúde mental influenciou neste processo. 

duas pessoas em cima de uma pedra separadas pelo mar
Artes: Bruno Belluomini/Portal Time de Saúde


Diferentes estudos apontaram que enquanto solteiros ou quem não morava com o companheiro viviam um momento de isolamento e diminuição de vida sexual, os casais passaram ter maior intensidade e qualidade de sexo na relação. Em um segundo momento, com o prolongamento da pandemia e a das medidas sanitárias, os solteiros começaram a ter uma flexibilidade e os casais a terem uma piora na vida sexual. 


Contudo, as revisões cientificas mais recentes apontaram que, de modo geral, a vida sexual ficou menos prazerosa, com queda no desejo sexual e na frequência das relações sexuais. O medo do vírus, a instabilidade socioeconômica, a imprevisibilidade do momento e até mesmo a vivência pessoal com a infecção da Sars-Cov-2, além do luto,  influenciam no desejo sexual da população mundial. 


“O sexo é uma válvula de escape, mas quando o estresse é muito intenso, ele não deixa espaço para que o ato seja uma compensação. Não há espaço para uma satisfação. E esse sentimento não é apenas por conta da pandemia, nossas vivências pessoais influenciam. O ponto da pandemia é que ela faz esse cenário ser coletivo”, avalia Carmita Abdo. 


Como aumentar a vontade de ter relação


Diante desse cenário imprevisível da pandemia, a questão que a Ciência busca responder é: além da adesão do sexo virtual, recuperaremos o prazer das relações? O processo histórico demonstra que diante de outras situações mundiais catastróficas, como as guerras, há um efeito positivo na vida sexual. 


“No final da Segunda Guerra Mundial, tivemos uma explosão de nascimentos que originou os baby boomers, mas isso foi há mais de 70 anos, agora precisamos entender qual será a resposta das pessoas que estão vivendo hoje. Nossos interesses são muito mais diversificados hoje, e os efeitos da pandemia continuarão em nossas vidas, mas o sexo continuará sendo uma fonte de satisfação, comemoração, descarga de tensão e, principalmente, de prazer”, explica a psiquiatra.  


A vida sexual do jovem 


A especialista, que estuda a sexualidade há mais de quatro décadas, apontou uma tendência, em 2016,  de que os adolescentes iniciam vida sexual entre 13 e 17 anos de idade. Contudo, a Ciência também demonstra que as gerações mais novas tendem a ter um comportamento diferente com o sexo, tratando-o com menos prioridade do que os adultos e idosos. 


“As novas gerações têm novas formas de entretenimento que competem com o sexo, o que pode diminuir a periodicidade. Há outras formas de atingir o sentimento de compensação e satisfação, especialmente entre os mais tímidos e reclusos que preferem uma atividade solitária que evite a exposição. Mas isso não tira o valor que o sexo tem na qualidade de vida; o prazer do sexo não é substituível.”  


Sexo em casa 


Carmita Abdo pontua que não são apenas as novas gerações que enfrentam um ambiente diferente para lidar com a vida sexual. O home office, que foi difundido na pandemia e tende a ser um novo formato de trabalho no Brasil e mundo afora, traz efeitos negativos para os casais e para quem busca morar com um companheiro. 


“A convivência 24 horas não traz saudades, não traz informações de fora. A vida profissional invade o pessoal e a doméstica. Isso influencia no sexo, na convivência e até na perspectiva de conviver juntos”, aponta a especialista. 


O momento de flexibilização é uma oportunidade para que mesmo as pessoas em home office possam retomar sua individualidade perdida no momento da pandemia. 


“Antes a pessoa tinha seu ambiente de trabalho e vida social fora de casa. Mesmo que o regime home office seja uma característica permanente na nossa sociedade, é preciso buscar minimizar os efeitos e criar hábitos que limitem o espaço da família, dos amigos, da vida doméstica, profissional e do casal”, conclui a psiquiatra. 





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