Muito se discute sobre o valor do trabalho enquanto fonte de realização, meio de sobrevivência e mola propulsora para o desenvolvimento individual e coletivo. É também por meio da atividade profissional que estabelecemos vínculos com comunidades e enxergamos significado para a nossa rotina.
Mas algo chama a atenção quando percebemos que o trabalho, que chega a ocupar pelo menos um terço da nossa jornada diária, pode se tornar a origem de diversos sintomas: burnouts, exaustão, ansiedade e estresse. De acordo com um estudo publicado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), em parceria com a OIT (Organização Internacional do Trabalho), as longas jornadas de trabalho estão diretamente associadas à morte de pelo menos 745 mil pessoas ao ano.
A pesquisa, que analisa dados de 194 países sobre a relação entre a rotina de trabalho e a saúde de populações, aponta que, em 2016, ao menos 398.000 pessoas morreram de AVC (acidente vascular cerebral) e outras 347.000 morreram em decorrência de doenças cardíacas causadas por jornadas de trabalho de 55 horas por semana. Trabalhadores homens entre 45 e 74 anos foram os mais afetados.
Os números mais recentes apontam para um crescimento de 42% em casos de morte por doenças cardíacas e de 19% em casos de morte por AVC quando comparados com o mesmo estudo, só que analisando os dados do ano 2000. De acordo com as organizações, essa tendência deve se acentuar ainda mais por conta do impacto da pandemia de coronavírus nas relações de trabalho.
Quando trabalhar demais se torna um problema irreversível
Segundo a OMS, longas jornadas de trabalho são o principal fator de risco para a saúde física e emocional dos trabalhadores e são responsáveis por um terço do total de doenças ocupacionais.
Isso porque o nosso organismo responde a um ritmo de trabalho muito intenso por meio de indicadores fisiológicos, como altos níveis de estresse, mas também por conta de uma rotina não equilibrada que acaba se tornando um ciclo vicioso difícil de driblar. Os profissionais em longas jornadas de trabalho estão exaustos e são mais propensos a hábitos prejudiciais à saúde, como fumar e abusar de bebidas alcoólicas. Esse grupo também demonstra ter poucas horas de sono e praticar quase nenhuma atividade física.
Apesar de os dados do estudo serem referentes ao ano de 2016, a OMS entende o resultado da pesquisa como um ponto de atenção para governos, instituições e indivíduos uma vez que a pandemia de coronavírus mudou significativamente como as pessoas se relacionam com o trabalho.
Para a organização, o home office se tornou norma para muitos setores, e isso dificulta ainda mais o estabelecimento de limites entre o tempo laboral e o tempo de descanso. Ainda, a crise financeira obrigou indústrias a reduzirem o seu quadro corporativo, o que gera mais sobrecarga e insegurança nos funcionários.
Por isso, em tempos de pandemia, é preciso estabelecer o cuidado com a saúde como prioridade: acima de tudo, estipular limites para as jornadas de trabalho é fundamental para a saúde. A OMS recomenda jornadas entre 35 e 40 horas semanais. Além disso, é importante manter uma rotina de movimentar o corpo, priorizar alimentação saudável, saber dizer “não” e administrar a sobrecarga de tarefas, assim como construir ferramentas para um tempo de descanso efetivo - de preferência, longe das telas.
Será que estamos descansando errado?
Nem sempre ligar a televisão no fluxo aleatório do streaming é a melhor saída, ainda que seja uma forma de a gente “se alienar”.
O descanso exige um tempo de reconexão com nós mesmos, com as coisas que nos dão prazer e nos trazem significado. Será que estamos descansando errado?
Spoiler: O descanso nem sempre precisa significar repouso; às vezes, a gente só precisa de um boost de energia que faça sentido na nossa vida.
Aqui vão algumas dicas de como podemos ter um “descanso ativo”:
- Testar uma receita que tenha algum significado afetivo;
- Experimentar uma atividade pela primeira vez, nem que seja dançar na sala de casa;
- Revisitar um livro preferido, ou anotações antigas que te tragam boas memórias;
- Aplicar métodos de mindfulness para ajudar a se conectar com o aqui e o agora.