A homofobia tem reflexos diversos na sociedade: de crimes de ódio contra a população LGBT a dificuldade de acesso à saúde e ao cuidado. No mundo interno, aquele que diz respeito à subjetividade de cada indivíduo, a discriminação também produz efeitos complexos.
Pesquisas indicam que a população LGBT tem menor autoestima que a população heterossexual, o que leva a piores indicadores de saúde mental, incluindo maior sofrimento e sintomas de depressão e ansiedade.
A jornada dos LGBTs envolve um tanto de autoconhecimento e uma boa pitada de coragem para entender sua orientação sexual ou identidade de gênero. Nesse percurso, a ciência já mostrou que o apoio da família é essencial. Mas essa não é a realidade de todos.
Estudos já apontaram o quanto o apoio e a rejeição familiar impactam na saúde mental de LGBTs. Agora, uma nova pesquisa publicada pela Associação Americana de Psiquiatria buscou analisar a relação entre o posicionamento dos pais em relação à sexualidade de seus filhos desde a infância até a vida adulta.
Como resultado, pesquisadores demonstraram que um posicionamento consistente, ainda que negativo, leva a melhores índices de saúde mental entre LGBTs.
Para a pesquisa, foram ouvidos mais de 175 adultos que se identificaram como LGBTs sobre a relação entre a sua sexualidade e o apoio familiar.
Os participantes foram divididos em três grupos: família que foi consistentemente positiva; família que foi consistentemente negativa; e família que saiu de uma posição positiva para negativa, ou vice-versa.
Em paralelo, os participantes foram ouvidos em relação aos seus sintomas de ansiedade e depressão.
O estudo descobriu que, embora o grupo cuja família foi consistentemente positiva tivesse sintomas menores de ansiedade e depressão, a diferença em relação ao grupo cuja família foi consistentemente negativa não foi drasticamente significativa.
Os achados apontaram para índices mais elevados de sintomas de ansiedade e depressão naquele grupo cuja família mudou de atitude em relação à orientação sexual dos indivíduos.
Isso não significa que é melhor conviver com uma família homofóbica que uma família aberta a repensar a sua posição.
Para o pesquisador que lidera o estudo, Matthew Verdun, da Chicago School of Professional Psychology, o que a pesquisa traz são algumas hipóteses para entender como a consistência de um posicionamento familiar afeta a saúde mental dos indivíduos LGBTs - e quais estratégias esses indivíduos buscam construir para lidar com a situação.
Isso porque, na falta de uma estrutura familiar que seja acolhedora, em grande parte das situações, o indivíduo busca construir relações de cuidado e redes de confiança para além da família, seja entre os seus pares, em comunidades, por meio dos amigos ou em outras esferas.
Mas nem sempre essa alternativa é criada de forma serena. O que os estudos trazem é que a homofobia intrafamiliar se articula, muitas vezes, como dispositivo de legitimação da violência estrutural com minorias. Consequentemente, pode ocasionar a ruptura de vínculo, o afastamento temporário ou até mesmo permanente entre os jovens LGBTs e seus familiares.
O pesquisador Matthew Verdun aponta para a importância do desenvolvimento de recursos internos que auxiliem os indivíduos a navegar pelos contextos sociais, seja trabalhar a sua autoafirmação como LGBTs, bem como sua autoestima, seja não silenciar a sua própria identidade.
Para Verdun, os achados da pesquisa podem orientar pesquisas futuras para identificar como a resiliência e outras ferramentas emocionais são observadas entre LGBTs.
Além disso, os dados podem ajudar profissionais de saúde mental que trabalham com pessoas LGBTs a apoiar, fortalecer e construir estratégias para lidar com o preconceito.
Homofobia é crime
Se, por um lado, é necessário um trabalho interno e externo, cansativo e corajoso, por parte da população LGBT, por outro lado, há algo bem mais simples de se entender: homofobia é crime.
Em 2019, o Supremo Tribunal Federal determinou que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero passe a ser considerada um crime no País. Apesar da legislação, pesquisa realizada pela Fiocruz com base em dados do SUS (Sistema Único de Saúde) apontou que, a cada hora, um LGBT é agredido no Brasil.
Além do Brasil, o levantamento da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (ILGA, na sigla em inglês) aponta que 43 países já têm leis contra crimes de ódio motivados pela orientação sexual da vítima.