O sono do bebê é um tema que literalmente tira o sono de muita gente: as famílias de primeira viagem, os que desejam um dia ser pais, até mesmo quem acompanha o nascimento de gerações como os avós, tios e amigos. O assunto rende muitas histórias e uma constatação: nenhum recém-nascido é igual. A Ciência confirma essa relação: a jornada do sono é única para cada um, partindo do útero e sofrendo modificações até o final da vida.
Na gestação, o bebê passa boa parte do tempo dormindo, se adaptando ao ambiente do útero e criando ritmos biológicos que ao longo da vida definirão o ciclo circadiano — mecanismo que ajuda o nosso organismo a entender o que é dia e noite e que funciona em média em um ciclo de 24 horas.
A partir desse entendimento, o corpo humano distribui suas funções fisiológicas e se adapta ao meio e suas variações, incluindo a hora de acordar e a hora de dormir, que é o chamado ciclo sono-vigília.
“Durante a vida intrauterina, tudo que acontece com o bebê está em total sintonia com a mãe. Muitas vezes, percebemos que ele está mais ativo durante o dia, mesmo sem saber que horas são ‘fora da barriga’. Isso pode nos dar a ideia de que o bebê já vai nascer sabendo a hora de dormir, porém, sabemos que não é o que acontece. Nos três primeiros meses de vida, o bebê se encontra na exterogestação, um momento lindo de crescente adaptação para entender melhor o mundo ao seu redor e iniciar a consolidação dos seus ritmos circadianos.” explica a pediatra Nathalie Moura, do Time de Saúde da Alice.
As estruturas centrais neurológicas que definem o ciclo circadiano só estão formadas para exercer sua função na 36ª semana de gestação. Ainda assim, as conexões nervosas são imaturas para o seu pleno funcionamento. Após o nascimento, é hora de fazer adaptações para o bebê amadurecer essas conexões, distinguir noite e dia, adaptar o ciclo de 24 horas e encontrar o caminho para um sono de qualidade.
Durante o primeiro mês de vida, o recém-nascido começa a se adaptar ao ritmo das atividades sociais que ocorrem repetidamente e ao reconhecimento do dia e da noite. A mudança pode ser drástica para os pais: o recém-nascido pode passar grande parte do dia dormindo — no total até 18 horas. Mas, quando o processo de aprendizagem inicia, esses ciclos de sono ocorrem a cada 3 a 4 horas.
O processo é natural e importante; afinal, ter um sono de qualidade tem efeitos positivos na organização fisiológica, maturação do sistema neurológico e melhor desempenho das funções vitais como respiração, sucção e deglutição.
Não é um aprendizado fácil para os dois lados. No início, o sono do recém-nascido pode ser fragmentado e distribui-se igualmente durante o dia e a noite. Assim como durante os primeiros meses, esse comportamento pode ou não seguir padrões, considerando que o ciclo sono-vigília está mudando o tempo todo.
“É comum os cuidadores terem dificuldades em lidar com a nova rotina. Ficarem inseguros se o bebê está dormindo o suficiente, sofrerem com o cansaço e privação de sono nessa adaptação. A dica é tentar atrelar as sonecas do bebê para descansar, tentar manter uma alimentação saudável para garantir a energia e contar com uma rede de apoio, seja da família, dos amigos ou de profissionais de saúde”, aponta a pediatra.
Há evidências de que as adaptações e aprendizados começam a ter efeito a partir do segundo mês após o nascimento, quando os pais começam a identificar que o bebê passa mais tempo acordado (vigília) de dia e com mais sono de noite. A partir do quarto mês, o ciclo sono-vigília está mais estabelecido com um sono noturno maior, sem o bebê abrir mão dos cochilos diurnos, que trazem benefícios para ele também.
O ritmo biológico e o ciclo circadiano dos bebês começam a se estruturar entre três e quatro meses, mas só aos seis meses que ficam mais regulares. Ao chegar aos seis meses, o bebê pode começar a dormir até seis horas ininterruptas, sendo que dois longos períodos de sono podem ocorrer à noite, intercalados com o despertar para a amamentação. O período de vigília (acordado) a partir daqui progressivamente se consolida, tornando-se mais longo de dia.